terça-feira, 6 de janeiro de 2009

lusco-fusco



mais uma dúvida
uma dor desnecessária.
por quê?
doce, chegas como dádiva,
ficas e, doente,
deixa-me, de repente,
sem documento, voltas.
vejo sangue nos teus olhos
escorre meu suor,
soro-amargo-venenoso:
meu corpo todo chora agora.

sangue, lágrimas
suor, saliva...
não sei mais o que é meu,
o que é nosso, aonde foste.
ouço tuas pulsações,
convulsivas a invadirem-me
o corpo pelas têmporas.
te abraço a cintura:
"não vai não, fica".

nunca fica mais fácil
nosso abandono,
ou esquece-te
do demônio que nos une?
o diabo de nossos corações!
venta venta venta
forte, venta cinza.
e meu cinzeiro à janela,
a espreitar a rua.
talvez ele se jogue,
porque tudo agora é lá fora,
é ausência tua.

mas sempre ventou.
onde estávamos
que não percebíamos?
quando, me diz,
minha palavra não te sangrou?
vertemo-nos por completo,
esgotamos os fluidos possíveis.
foram-se até os poros,
que já se negam a existir.

resgatemos nossa dívida
com o além
equilibremos, pois,
o cosmo.
cabelos, unhas,
pelos, dentes
ossos: nós,
como os cadáveres!
mas sempre existirá,
não te esqueças disto,
o odor das flores podres
a nos perfumar
a cada crepúsculo,
a cada lusco-fusco.

4 pitacos:

Nana disse...

oh minha amiga poeteira!

boneca cega disse...

e meu cinzeiro à janela,
a espreitar a rua.
talvez ele se jogue,
porque tudo agora é lá fora,
é ausência tua.

de onde vc tira essa coisas? perfeito!

Lucas disse...

Moça, que texto lindo! o jeito como vc sente a vida e a escreve é bom demais de ler! Parabéns, sempre bom passar pelo seu blog!
bjo
Lucas

Sucedeu assim disse...

adorei a intensidade, o verter-se por completo. ameeei todo ele