amar não é o caso, porque eu não sei amar.
[eu não sou gente]
digamos então que eu soubesse...
[e também façamos de conta que um 'quando' é igual a um 'se',
é que, infelizmente, a língua não é tão opaca assim.
e como eu gostaria que ela fosse, que não fossem diferentes um e outro]
quando a gente casar,
meu lábio pode tocar,
todo dia, de propósito,
o cristal fino do copo,
[para te ver sorrir em resposta ao som metálico]
pode meu corpo repousar,
todo dia, ao teu lado na cama,
[nunca cansado]
atento às tuas pulsações, porque meu ouvido reposusará no teu peito,
e nem precisarás dizer nada,
[porque a língua não é opaca]
porque teus dedos nos meus finos fios de cabelo
comporão melodias pulsadas conjuntamente entre mim e ti.
[como um piano]
minha mão percorrerá em silêncio a tua barriga, as tuas coxas
[e meu ouvido ali
porque só sei, e continuarei sabendo assim,
ouvir no teu corpo]
como uma pata felina, gelada.
quando a gente casar, não haverá o que dizer
[poderemos emudecer?]
em futuro do pretérito, meu tempo verbal.
nem haverá espaço para, levianamente,
'quando' ser trocado por 'se',
porque agora a língua é opaca
para alguém que não é gente.
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Há 5 anos