domingo, 22 de novembro de 2009

três de vez


noite morta


Diáfana alma aparente
movimentos lentos
frente aos olhos vagos
olhos vesgos, olhos ocos
dos monumentos humanos
cuja lágrima
[sem olho]
dança docemente
pela madrugada errática:
mistérios gratuitos
à meia luz
do interdito gatuno
do vago suspiro
iluminado, limpo
já sem ar, entanto.

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castelo de cartas ao vento

Despojo desejos
inteiros, golfados
pelo ralo
catártico
buraco profícuo
vasto vaso
vasto mundo
cerâmico, profundo
branco imundo.

Embaralho agora
meu único baralho amarelo-velho:
faço castelinhos de cartas
colossais, piramidais
feitos só com ás
e me acalmo
do sopro fraco de tantos ais
levados, desfeitos
feito folhas ao vento...

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janela aberta pra dentro

mais um pacto
notívago, desfeito.
é o efeito das semi-asas...
minhas ao meio?
não sei ser pela metade.

saiam todos,
abram espaço,
alas portas buracos poros
a minha janela
– que me basta –
por ela
– que é inteira –
cinzeiros, borboletas
não mais voam não mais entram:

ruflam asas
explodem, escorregam
se esvaem, se jogam.

minha janela aberta basta-me:
porque só ela agora resta aqui dentro de mim.