quinta-feira, 26 de novembro de 2009

transa em braile

De todos os livros possíveis
escolho aquele:
sem capa
aparentemente sem alma.

Epigrafado
um charme amarelecido
sorrindo-me, convincente,
entre vogais e alguns ais.

São versos de quem?

[pergunto-me a mim mesma
distraída do quase desespero
de serem meus aqueles versos raros]

Aproximo leio pois e quase
quase desvendo e
ele... ele me afasta de repente
com consoantes de outra língua,
de outro alfabeto.

Dialeto:
seria algum dialeto subterrâneo?
Errático decadentista
em verso branco
dolorosamente parido,
partido ao meio?

Insuportavelmente tomo-o.
Fecho meus olhos
passo os dedos
as palmas das maõs
e ele sussurra entre as minhas digitais.

E cega
sinto que não há assonâncias
no tal dialeto infernal,
desprovido de vogais:

vestígio de alguma escrita?
autógrafo esferográfico
do demônio dedicando
[sem ais, porque (já disse) sem vogais]
palavras sentimentais?

Bela ponte budapesteana
do medo
[que sinto sem saber]
de saber
de alguma sina que me una
eu, objeto, a
ele, outrora oferecido
com tanto afeto barato
banalmente sentimental
mas não menos belo.

Tantos outros como este
em minha estante!
Guardando pós e,
mortos,
passados
amores
presentes dados
escrita que persiste forte em alguma parte indistinta.

Cega, decido desvendar seu silêncio
poemático
toque a toque
transa em braile.
Devagar, pulsante
Possuímo-nos aos poucos:
penetra sua tinta em cada poro meu.
Absorvo
por fim
suas duras consoantes
num instante raro
só eu.

1 pitacos:

Sucedeu assim disse...

nooooossa...! como diria, uma certa professora minha, "muita plasticidade" :B
extasiei.versos de uma intimidade muito envolvente