quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Bem-vinda

Minha casa tem caneta
pro Brasil inteiro
brincar de pintar
suas dores
em cores
de volúpia teatral,
prazer carnal
de todas as danças
de corpos torpes,
dormentes:
de lá ninguém sente
que foge...
carnaval latente
d'um brilho transparente,
lacrimal.

Minha casa tem um quarto
pendido d'um quintal de asfalto:
há folhagens fendidas
canteiros de flores carnívoras
de todos os aromas
podres, fedidas,
sangue escorrido de pétalas
feridas que secam abertas...
onde escarro,
despejo o balde
preservo regados
resquícios de amores
roubados.

Minha casa tem janelas
amarelo-velho,
mundanas venezianas
do medo
que me assalta
quando acordo
de mim mesma:
volto a ver
espaços vazios,
desejos expostos
d e p o s t o s
do castelo
de cartas marcadas
onde me escondi.

Minha casa
hoje sou só eu:
faca enterrada na terra,
tropical, cataléptica, nua.
E n t r a
- A casa agora é toda tua!