eu deveria sentir-me grata por teres lembrado de mim, até mesmo porque isso é completamente verossímil, é o que alguém o tempo todo só e suada, dentro de um apartamento quente, deveria sentir: gratidão.
domingo, 21 de fevereiro de 2010
irritação
eu deveria sentir-me grata por teres lembrado de mim, até mesmo porque isso é completamente verossímil, é o que alguém o tempo todo só e suada, dentro de um apartamento quente, deveria sentir: gratidão.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
inacabado
deitei no teu colo
caí de maduro
tateei o escuro
do abuso d'um desejo
calado, seguro
murmúrio mudo
meu suspiro
silabado...
era só teu nome
curto, alveolado
dedo a dedo
imprimi
meu medo
meu muro,
o rumo
calculado
do acaso
onde me pus
no teu cabelo
escuro
que compus
feito ondas ritmadas
um acordeon, um sax
no abandono
perdido
do teu braço
roça assim
de leve
pulsado
meu adeus
deixa,
digital,
gravado:
um mundo
imaginado
não vivido
inacabado
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
depositei qualquer coisa
de meu
na estrada
incalculada,
desejo de marchar
marchar e perder
qualquer discurso
perder de vista,
pôr em desuso
o compromisso
que assumi com
um mundo
de não-eus.
aqui não sou nada
[e quero ser nada]
e o aqui é o quando,
é o onde
onde sempre me quero:
cada brecha é meu lugar
cada espaço um desvio novo
um desvão de mim mesma
entre pés, pernas, panturrilhas
[genitálias]
que se tocam nuas,
amantes dos espaços vazios
efêmeros, belos!
quero asas lisas, axilas
nos meus pés...
aqui no meu aqui
não há correspondência
coerência
família, pátria, amores
problemas e dilemas.
sou o improvável
do agora
diante dos meus olhos.
sou e não sou em cada poro
quando quero
e quero gravitar
nos motores mais
e mais bestiais
do jamais.
o jazz soa
na boate em Curitiba
[parto, não parto?],
balbucio o baixo
grave, leve...
escrevo porque sou o agora,
escrevo e não perco
meus olhos em pontos
distantes, idos
perdidos no passado.
e já não sou mais eu:
comanda a toada sutil
dos meus gestos que
traçam esta escrita imóvel,
meu pulsar insano
vindo do piano
da voz...
prefiro deixar
a emoção do palco
comandar minha pulsação:
ser nada, o som sentido
nu
nas espaldas pautadas,
narinas dilatadas,
sussurros suados
ao ouvido...
escorre comoção
por todo o meu corpo
acre, cru.