sábado, 12 de setembro de 2009

fragmentos de uma tarde na free way.

ao contrário do que pode sugerir o poema no post logo abaixo, eu estou bem. bem mesmo.
só queria ter um pouquinho mais de tempo pra escrever, sinto falta disso, de organizar minhas invenções, telegrafar certos pensamentos que vêm surgindo... ou arquitetar mais detidamente palavras que pretendo fazer literárias. acho que a solução vai ser voltar a anotar em caderninhos e pedaços de folhas, compondo nos lugares mais inusitados. às vezes penso que seria o ideal uma máquina que gravasse pensamentos.
hoje, por exemplo, estava no unesul, rumo a osório, pensando.... pensando!
[e me sentindo culpada por não estar lendo. mas daí me autojustifiquei: se eu não aproveitar este ônibus confortável pra pensar nas coisas, o que vai ser?]
e o pior é que eram só coisas boas. tudo girando em torno de uma ideia que, de tão simples, de tão lugar-comum, fica difícil de explicar sem parecer uma ridícula: as coisas acontecem quando têm de acontecer. o famoso "cada coisa tem seu tempo". e como explicar isso?
um dia, surge o instante-já: eu não sabia ler poesia. mesmo assim, tenho uma caixa, uma espécie de relicário, cheinha de versos melosos batatinha-quando-nesce, que um dia uma outra Carolina escreveu. entrei pra faculdade de letras e ainda não sabia entender poesia. [será que hoje eu sei?]
e por que queria fazer versos? versos ruins, que deviam, não sei, satisfazer a alguma coisa quase fisiológica do meu corpo. versos horríveis, mas já tive quem os lesse, quem me questionasse sobre eles, sobre como andava a minha produção. e como isso foi fundamental! como tenho gratidão.
mas me incomodava não entender poesia. eu queria entender, por exemplo, a rosa do povo... ao menos a sensação de que algo faz sentido hoje eu tenho. eu pego papéis impressos em versos, e as palavras sussurram pra mim. o sentido se faz. sem que eu percebesse, de repente, tudo ficou claro. será que simplesmente aprendi a ler o que eu quero neles? como na clarice lispector, que só fui entender depois de formada em letras. e será que a leio ou me leio nas palavras dela?
aos dezesseis anos, tentei ler crime e castigo. mas eu era uma jovem feliz demais pra conseguir suportar tanta dor. parei de ler. taí uma opção de leitura pras próximas férias... será que eu consigo?
até que ponto sou eu que escrevo ou leio? até que ponto estas linhas custosas me ajudam a entender tudo isso? [isso que é como uma reconstituição do que eu pensava pelas seis da tarde, rumo ao pão meu de cada dia]. até que ponto aquela menina sem-noção, que pintava a boca de roxo, usava scarpins vermelhos da irmã e tentava ler dostoiévski, poetisa-desgovernada e apressadamente sedutora, é parte desta que hoje não usa batom, veste tênis nos pés e sorri ao rezar pai-nossos e ave-marias?
[e sorrio com lábios, dentes, gengivas, língua, obturações, piercing, rugas dos olhos, bochechas, covinhas. eu sorrio com com a alma]
e talvez esta Carolina que agora fala seja um delírio de uma mente cansada e um corpo desnutrido.
[ok. ok. não tenho a pretensão de ser definitiva. só fico com um pouco de medo de me sentir tão bem assim, tão leve... o que o cosmo reserva pra mim? como diria woody allen: ficarei paraplégica? por que tanto obnubilamento?]
era pra ser um post cutinho. Carolina com muito sono.
[pensando bem, agora acho que valeu a pena não ter lido durante a viagem. e torço para que nunca alguém invente aquela tal máquina de gravar pensamentos]

4 pitacos:

cintilante disse...

delícia te ler!
"mas eu era uma jovem feliz demais pra conseguir suportar tanta dor."
acho que, estudantes de letras ou não, mas ávidos e suculentos leitores de tudo ou de qualquer coisa que mexa coma nossa cuca sofre disso. e acabam por tornar-se doloridos demais, pois não há sequer uma chance de voltar atrás e ser muy feliz depois de encontrar com certos escritores.

cintilante disse...

sofrem* disso

Val Schilling disse...

'mas me incomodava não entender poesia. eu queria entender, por exemplo, a rosa do povo... ao menos a sensação de que algo faz sentido hoje eu tenho. eu pego papéis impressos em versos, e as palavras sussurram pra mim. o sentido se faz. sem que eu percebesse, de repente, tudo ficou claro. será que simplesmente aprendi a ler o que eu quero neles? como na clarice lispector, que só fui entender depois de formada em letras. e será que a leio ou me leio nas palavras dela?'


sou uma leiga, mas talvez essa frase possa fazer algum sentido:

"Não são as dúvidas que me fazem querer saber a verdade. É a intrigante verdade que me faz ter tantas dúvidas."

talvez tu soubesse, ou sabe, o que tu quer ler nessas poesias, e talvez o que há nelas não seja lá tão bom... ou talvez eu só esteja viajando!!

adoroo ler teu blog!! espero a tua visita no meu tbm ^^

bjaaum

Vinicius Porto de Avila disse...

Adorei o texto Caca, gostoso de ser lido. Bjs Vicky