terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Busquei a luz e o amor. Humana, atenta

Como quem busca a boca nos confins da sede.



(H. H.)


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Saí de recesso: fui recarregar minhas baterias nas águas das cachoeiras frias ^^

Até doismiledeeeezzzzz.

Beijo, fui.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Do sétimo andar

No alto de um prédio
voam lençóis molhados
de suor,
de um amor que se foi
em valsa previsivelmente
compassada.
Vou na dança
dos lençóis ao vento norte:
secamo-nos ao sol forte
de dezembro,
expulsamos mofos ancestrais
dos tecidos de tramas difíceis,
finas.

Da janela do meu quarto
[onde estou, imparcial]
observo lenta
o branco impessoal
dos passantes
que vejo
e volto-me aos tantos quintais suspensos
do centro da cidade
sem rumores de vocábulos,
qualquer verso imoral
que me tire daqui.
Miro-os: são balanços de elásticos ao vento.

Da janela
risco o vidro
risco e apago o vidro
desenho-me
[lá onde dançam os lençóis de tule]
risco com meu lápis carbono 0.2 feito de madeira reflorestada
[é preciso preservar]
risco, enfim, só pra poder apagar
e ir-me pondo por prazer de pôr-se
cinza, previsível, transparente
em parapeitos suspensos
[pulo? não pulo?]
onde quaisquer não
me vejam
[não me queiram ver].

Apago pra preservar
o vidro [pequeno]
a minha janela insignificante
[em meio a tantas outras jaulas urbanas]
os lençóis caleidoscopicamente
livres ao vento:
tonta, caio
quebro a ponta de carbono
risco o vidro que rasga
os meus punhos secos
os lençóis brancos
do sétimo andar
elastificando-se em sangue
cinza, podre, aguado
dentro de mim.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

é Natal

sorvo águas
de angústias
decaídas
de uma noite
natalina
sem as luzes
das estrelas
refletidas
nos vitrais
da esquina.

luzidas as
casas tristes,
sem enfeites,
à espera
de confortos
abraços
agrados
dos presentes ausentes
nesta noite natalina,
nesta lua cintilante:

naftalina especial
escura
- é Natal!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

norte

o vento
forte e rude e seco
i n c o n s t a n t e
varre as minhas pétalas
já distantes:

palavra fugidia
silêncio alucinante
a poesia analgesicamente
dorme em mim.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Eu faço versos
como quem despetala
uma flor qualquer:
dissipo
perfumes alheios
a quem me der
motivo de arrepio frio.

Faço versos
como quem pede
o consolo da perda
o dízimo, o inconstante
o amor.

Faço versos
aos berros
jorrando entranhas
sonoras a céu aberto.
Finjo, leviana,
um orgasmo de puta
vadia.

Sussurro a beleza fugidia
dos botões das flores
recém-colhidas,
abortando-as
em golfadas
fugazes, vazias.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Há uma gota de sangue
espesso em minha garganta
amigdalítica.

Acho que nunca te mostrei
minha garganta, oposta
à nuca aberta
que vias nas noites nuas

[ou vias estrelas na rua?]

enquanto eu gemia
qualquer verso estúpido
vão
a um coração

[coração?]

vazio de qualquer luz
de luas minguantes que fossem!
Mais vazio que a rua escura.

Sangue
do dente
que furou um dedo
que fuça duas amígdalas
que provocam a ânsia acre
do vômito catártico de tudo-o-que-não-fui.

Enterneço-me
ao líquido gástrico
pastoso:
sou eu, meu céu
cintilado por estrelas
de ervilhas vermelhas,
meus olhos
mais brancos
mais leves que
minh’alma cheia de
espasmos lentos e frios.

Frio,
como a louça
do vaso,
agora orquídia salpicada
de versos vermelhos
no branco.

Não sei se já disse
que como
orquídias.
Já sei,
me disseste:
- Come só morango!

Falhei, não te ouvi.
Devoro cigarros
e sorvo as águas
de estrelas refletidas
no chão,
decaídas, imperfeitas.
Perdão.

domingo, 13 de dezembro de 2009

carne e unha


te quero
com a firmeza
que só tenho
comigo mesma
quando afundo
na pele a unha,
coçando uma coceira
aguda.





sábado, 12 de dezembro de 2009

O ÚNICO SOM

Não sou capaz dos silêncios.
Sou a palavra que foge
pra perto de ti.

Ausentes minha mão na tua
meu sopro em teus lábios
na nuca unhas dedos dentes.
Sentes agora a pressão dos nossos corpos?

[Eu ainda a sinto
sinto mais
tuas mãos murmurosas a pedirem
o que todo o resto
sente
mas nunca pede]

Febre suor força
meu abraço: te enlaço
[posso?]
e não te devo nada disso
nem êxtase, nem descanso.
Meu silêncio...
tu não pedes, dou-te versos.

Versos abertos, punhos cerrados.
E que importam os corações?
Descaso? Não...

Despiste os ombros
onde arde o som
do pingo
do suor
dos meus cabelos ralos.

Ouviste as notas
meio mudas, abafadas
de alguma lágrima
de enfado
que ainda está em mim.

Em ritmos alternados
seguras meus punhos sangrados
que batem abertos
apelos
te pedem
que peças
cansado
o único som:

tu, teu corpo e nosso silêncio.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

agarro

o grito

agudo

que brota

curto

da garganta

aberta

fresta besta

em pausa

dramática:


o sussurro

o espasmo lento

de um gemido

surdo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

dois perdidos numa noite estúpida
e surda ao apelo
das sensações confusas
do absurdo momento torpe
das tantas gentes sujas
voltiandando o cubículo quente
e carente do escuro, privado da rua
ruidosamente imunda
do revés do dentro
das palavras calmas
resistentes
distantes
dos silêncios duros
dos sussurros frios
às vogais
dos dois olhares oníricos
insistentemente imunes.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

post it

pego a pena
imprimo em
mim mesma
um poema
mundanamente
teu,
mudo.

mudo surdamente
enquanto leio versos absurdos
no teu silêncio ausente.

é bom sentir-me
assim soltinha
novamente
feito folha de papel,
voando em verso branco:
haicai flutuante
reticente. brando.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

desenho com giz
o asfalto molhado,
faço o rabisco disforme
solene de sempre
no chão tão duro, concrético
que o sorve no vagar de um amanhecer lento.

engole a boca asfáltica
as tripas vísceras órgãos genitais
de animais jazidos
no meu chão de giz sedento.

nele o tempo vai chovendo.
chove e insisto nas linhas molhadas.
chove e é quente.
chove e escorrem minhas inscrições
inúteis no lapidar eterno do asfalto duro.

o céu, eterno: ele começa em meus punhos cerrados.
[eles querem guardar o momento: estrangulam-no]
ele: todo branco de espanto
enverniza e incide um brilho estranho
no traçado de uma pata sobre um crânio aberto,
partido em três.

é quente, e o asfalto
expele-se em vapores noturnos...
expulsa em fumaças diáfanas
vapores encaracolados
o meu mórbido desenho.

minhas linhas
traçadas com custo:
café solúvel
em água fervente
excessivamente doce
pr'um dia de estio.

o ar, agora rarefeito,
todinho tingido de giz azul-escuro
incenso lento
eterno pulsar de fagulhas
que queimam minhas pálpebras por dentro,
que abrem meus pulsos,
mistura-se às veias porosas
secas de instantes seguros.