quarta-feira, 31 de março de 2010

a cada despertar

engreno na escrita
de uma coisa oculta...
uma parte qualquer
de mim mesma
deformada
em linha
reta:
nó.

(queria o claro da escrita
mesmo nada revelando,
preenchendo espaços
tecendo nos versos
dispersos, vazios
nós guturais
lágrima
suor e
sal)


desperto a mesma, dispersa
no vagar dos sonos idos
e sós em leito estreito.
acordo em acorde
pulsante, maior
pálpebras
ardentes
lábios
e sonhos e vidas dormentes
(mas meu corpo, cansado,
lateja - são altas horas!
que barulho é este?)
na madrugada,
a lua a pino.



aspirinas! paracetamóis!
tragam-mos: amenizam...
amortecem  a  dor moral.
meu café,  esquentem-no!
lavarei o rosto  e,  se der,
farei  as preces,  pedirei
pelos  sonhos  partidos
perdidos  no  despertar.

segunda-feira, 29 de março de 2010

 para Camila

águas tranquilas,
de profundidade incerta, desconhecida....
não sei se paro e contemplo, apenas.
não sei se, devagar, mergulho e submerjo.

aos poucos, aos pulos
molho os dedos, as palmas das mãos
e saio
pro vento
(e seu sopro sossegado e quente)
vir me secar.

(sempre saio e sento
e vejo, vejo, vejo...
volteio a margem:
contemplo-me
em segredo
mergulhar) 

sábado, 6 de março de 2010

"A vida só é possível reinventada"

 
Reivento-me na linguagem
Num poema
Mesmo que
Pra isso
Não saia da escrita
Do que sou
E sinto de mim mesma.

Não sei quem seja
Eu, outrem
A vida que levei
Ou só tracei
Ontem.

A vida...
Esta que ora quero,
Por que me esmero,
Ora jogo fora
Relego ao acaso
Das coisas que não sei,
Não controlo.

Comprometo-me,
Mas logo esqueço, desuso
O discuro que exergo
E produzo.

Se lê o confuso
Do que ouço,
Enxerga em palavras
O que sinto,
O que transbordo...

Não! Não busque compreensão.
Reinvento-me porque nada muda,
Porque sendo não sou.

Troco de olhos,
Pois preciso ser outra... 
Vejo as coisas que conheço
E ao vê-las
Sinto-as de outra forma:
Reinvento, pois, a vida!

Enxergue o mundo como queira
novo
de outra maneira.