quarta-feira, 24 de junho de 2009

futuro do pretérito

amar não é o caso, porque eu não sei amar.
[eu não sou gente]

digamos então que eu soubesse...

[e também façamos de conta que um 'quando' é igual a um 'se',
é que, infelizmente, a língua não é tão opaca assim.
e como eu gostaria que ela fosse, que não fossem diferentes um e outro]

quando a gente casar,
meu lábio pode tocar,
todo dia, de propósito,
o cristal fino do copo,
[para te ver sorrir em resposta ao som metálico]
pode meu corpo repousar,
todo dia, ao teu lado na cama,
[nunca cansado]
atento às tuas pulsações, porque meu ouvido reposusará no teu peito,
e nem precisarás dizer nada,
[porque a língua não é opaca]
porque teus dedos nos meus finos fios de cabelo
comporão melodias pulsadas conjuntamente entre mim e ti.
[como um piano]
minha mão percorrerá em silêncio a tua barriga, as tuas coxas
[e meu ouvido ali
porque só sei, e continuarei sabendo assim,
ouvir no teu corpo]
como uma pata felina, gelada.
quando a gente casar, não haverá o que dizer
[poderemos emudecer?]
em futuro do pretérito, meu tempo verbal.
nem haverá espaço para, levianamente,
'quando' ser trocado por 'se',
porque agora a língua é opaca
para alguém que não é gente.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

morte à Clarice Lispector (ou a qualquer barata que a ela se assemelha).


terça-feira, 16 de junho de 2009




anfetaminas no corpo e mente onde não há espaço para mim. sou tão espaçosa que jamais me trancariam em uma caixinha de música [onde eu seria a bailarina a bailar suave, a bailar doce entretendo os olhos calmos de alguém que me olha e se cansa de me olhar e me fecha num tapa de volta à caixinha pequena, meu mundo], porque lá não há espaço: eu não danço suave. eu não sei dançar.
podia haver anfetamina para os olhos. não para enxergar melhor, apenas para senti-los normais, para que cumpram decentemente sua única função: enxergar. [e não dançar. se bem que eu já vi olhos dançantes: dança estática em meu corpo.] e não enxergo mais o que vem de fora, e sentir não conta, é verbo genérico: a gente sente gastura, medo, arrepio, angústia, o grito da palavra impronunciável presa ao estômago. se tendo enxergá-la, ela foge para o meu intestino, depois se mistura ao sangue do meu útero. vaga pelo meu corpo como mãos nervosas a me violentar os poros e fios de cabelo.
às vezes, consigo prendê-la na garganta, como hoje [não é uma palavra, não tem radical, forma, conteúdo semântico.... materializo-a em morango, pois, preso no esôfago, na glote a sufocar-me até a morte], e gozo de êxtase ao imaginar o meu vômito suave. eu enxergaria o morango, vivo, a dançar para mim.


quinta-feira, 11 de junho de 2009

"eu quero o fluxo"

não. é mentira.
acho que, desde que me entendo por gente [e não sei quando foi isso... às vezes desconfio de que seja gente], sei o que eu quero. mais ainda: o que não quero pra mim. mas me pergunto: se tantas vezes isso muda, não seria o mesmo que não saber? é, dizem que objetivos impulsionam a vida da gente, então tudo valeu a pena.... também não sei. eu queria é querer o fluxo: deixar com que tudo aconteça sem o meu consentimento. sou cheia de vontades, contudo. eu penso que mando, não mando em nada. sou, como disse certa vez, um folhetim intimista escrito por uma barata.
é assim que me sinto, pois... pego-me dialogando, no ônibus, antes de dormir nos meus colchões empoleirados no chão frio deste apartamento, servindo-me em algum restaurante da cidade, com a minha barata-autora. o que ela destina para mim? qual é o próximo capítulo? quais são as personagens que botará no meu enredo principal? ah, fico puta quando sua criatividade falta, e ela vem com os mesmos conflitos, algum dia já citados em algum capítulo distante. nem a mim ela anda conseguindo surpreender, porque já saio desvendando as aventuras que se me apresentam. o que será que ela quer adiar com essas repetições? por acaso me acha boba, ou crê que os leitores são medíocres e desatentos? ou me testa, a ver se esta protagonista já evoluiu o suficiente, a ponto de rir, enquanto espera a próxima novidade?
devo agradecê-la, por hora, à guisa de conclusão destas palavras de feriado: de novidades estou legal. novas personagens a me rodearem, a fazer do dia lá fora mais bonito do que está. já disse em outro momento: tudo é lá fora agora.
eu é que sou dentro, eu sou o fluxo em pessoa.
[não sou gente.]

terça-feira, 9 de junho de 2009


quarta-feira, 3 de junho de 2009