quarta-feira, 24 de junho de 2009

futuro do pretérito

amar não é o caso, porque eu não sei amar.
[eu não sou gente]

digamos então que eu soubesse...

[e também façamos de conta que um 'quando' é igual a um 'se',
é que, infelizmente, a língua não é tão opaca assim.
e como eu gostaria que ela fosse, que não fossem diferentes um e outro]

quando a gente casar,
meu lábio pode tocar,
todo dia, de propósito,
o cristal fino do copo,
[para te ver sorrir em resposta ao som metálico]
pode meu corpo repousar,
todo dia, ao teu lado na cama,
[nunca cansado]
atento às tuas pulsações, porque meu ouvido reposusará no teu peito,
e nem precisarás dizer nada,
[porque a língua não é opaca]
porque teus dedos nos meus finos fios de cabelo
comporão melodias pulsadas conjuntamente entre mim e ti.
[como um piano]
minha mão percorrerá em silêncio a tua barriga, as tuas coxas
[e meu ouvido ali
porque só sei, e continuarei sabendo assim,
ouvir no teu corpo]
como uma pata felina, gelada.
quando a gente casar, não haverá o que dizer
[poderemos emudecer?]
em futuro do pretérito, meu tempo verbal.
nem haverá espaço para, levianamente,
'quando' ser trocado por 'se',
porque agora a língua é opaca
para alguém que não é gente.

3 pitacos:

Improviso disse...

me disseram que eu sei amar, não sei o que isso quer dizer. escrevi certa vez um poema que repito muito.
e tudo tem sendo tanto
e tanto teu amor é teu
e tudo que tenho tem se perdido
e de tanto teu nada tenho comigo

e te desejo tão tanto
e você em espanto não deseja nada a ninguém
desejo que o desejo teu
arrepie os pêlos e os cabelos
de quem nem os tem.

eu gostaria de dizer algo sobre teu texto que represente melhor o que eu sinto agora, mas, justamente porque a língua não é opaca, eu me silencio.

cintilante disse...

uau. densidade. densa idade. intensa.

Carol'cut disse...

nada como postagens sobre o amor, dão ibope :P