terça-feira, 16 de junho de 2009




anfetaminas no corpo e mente onde não há espaço para mim. sou tão espaçosa que jamais me trancariam em uma caixinha de música [onde eu seria a bailarina a bailar suave, a bailar doce entretendo os olhos calmos de alguém que me olha e se cansa de me olhar e me fecha num tapa de volta à caixinha pequena, meu mundo], porque lá não há espaço: eu não danço suave. eu não sei dançar.
podia haver anfetamina para os olhos. não para enxergar melhor, apenas para senti-los normais, para que cumpram decentemente sua única função: enxergar. [e não dançar. se bem que eu já vi olhos dançantes: dança estática em meu corpo.] e não enxergo mais o que vem de fora, e sentir não conta, é verbo genérico: a gente sente gastura, medo, arrepio, angústia, o grito da palavra impronunciável presa ao estômago. se tendo enxergá-la, ela foge para o meu intestino, depois se mistura ao sangue do meu útero. vaga pelo meu corpo como mãos nervosas a me violentar os poros e fios de cabelo.
às vezes, consigo prendê-la na garganta, como hoje [não é uma palavra, não tem radical, forma, conteúdo semântico.... materializo-a em morango, pois, preso no esôfago, na glote a sufocar-me até a morte], e gozo de êxtase ao imaginar o meu vômito suave. eu enxergaria o morango, vivo, a dançar para mim.


3 pitacos:

cintilante disse...

Carol, tu é atualmente a minha escritora favorita. De coração. Tudo o que leio de ti me emociona e sinto uma sintonia incrível entre nossas palavras.
Somos bailarinas de próprios movimentos, suaves ou não; quem dera que nossos morangos nunca mofassem.

Te admiro.

cintilante disse...

ah, ariana... que delícia de troca essa!

fico feliz e só no aguardo dos teus próximos passos, as well.

Edna Hornes disse...

Impressionante essa verborragia veloz, quente, nervosa, que finalmente faz aquela volta na boca e escapa, livre.

Adorei!

Impressinante.

Beijo