quinta-feira, 30 de setembro de 2010

AUDIÇÃO

Foi preciso
ouvir tua voz.
Descobri-a rouca
afoita, talvez
ansiando contar-me
qualquer coisa,
querendo
as atenções
já tuas.

Foi preciso bem pouco.

Silenciamos
as vozes
brotadas
de nossas gargantas
frente a frente
na rua
ainda na mesa de um bar.

Boca a boca,
ouvi tua respiração
teu suspiro agudo
mudo
e as batidas do teu
coração
quase a machucar-me
o corpo estendido
na cama,
que gemia,
inocente,
sofrendo
a pressão de dois
corpos surdos
ausentes
amantes.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

VISÃO

Não buscava nada
tão longe estavam
meus tristes olhos
já sem comoção
sem morada cada
parte
cada poro
percorrido
do meu corpo
sozinho, vazio
sem dono
um nó.

Te vi.
Chegou-me pelos olhos
toda a fome
vidrada de ti.
Foi um instante
vago
um suspiro esparso
num vácuo que não senti:

um vazio branco
uma lágrima
cortada
que, inconstante,
gotejava em mim.

Eternidades de ti
duraram em mim.

Desde então
te tive todo,
uma imagem
lembrança, talvez...
uma imagem
gravada nas retinas
tortas
que resistem em mim.


Habitaste o que
essencialmente
sou:


o olhar que
seguro
me leva por onde vou.