segunda-feira, 25 de agosto de 2008

o lamento era do asfalto.

enquanto tocava a tão famosa canção, saiu do seu estado de letargia; prestou atenção:

não posso esquecer
o teu olhar
longe dos olhos meus
 
ai, o meu viver
é de esperar
pra te dizer adeus
 
mulher amada
destino meu
é madrugada
sereno dos meus olhos já correu
 

claro que era cafona, era suburbano demais, era carioca demais, mas era aquilo ali que ele sentia. não, não, não, não, se sentia tão ridículo! querendo até chorar com uma metáfora igualmente ridícula sobre chorar: inaceitável.


só que agora a merda já tava feita, como retornar [como se diria ao taxista: não, véio, me enganei, faz o retorno e volta pela rua de trás] ao estado letárgico confortável? mas não, o pensamento precisava [?] seguir adiante, e lá no fundo a automoléstia deve ter alguma vantagem. o que pensar? porque tudo se resumia ao que música dizia, e até um dia antes era essa a situação, a da segunda estrofe, e foi dado o tão provocado adeus. logo ele, que odiava dar adeus, que, no máximo, era capaz de dar um até logo. mas, também como o próprio não se cansava de dizer, alguns papéis cabem a uns, outros cabem a outros...


porra, e não bastou a música martelar, vinham agora considerações filosóficas [daquelas bem sem embasamento nenhum, como era bem de seu costume, quando tinha alguém disposto a ouvir suas inúmeras teorias sobre a humanidade e sua estrutura psíquica], piorando a cada segundo, passando ao provérbio [afinal a voz do povo é a voz de deus] deus escreve certo por linhas tortas. deus o caralho caralho caralho caralho. deus nem existe, porra! ai, alguém cala a boca da minha cabeça?


como é que pode essa coisa chamada destino enganar tanto a gente? como??? tudo conspirando a favor, mas num a favor que é desfavorável. de repente, se chega ao avesso do avesso, nasce um espinho no meio da rosa, iniciando sua metamorfose [porque o destino de toda rosa é ser cacto!], o veneno vira antídoto e tudo está no seu lugar, na mais perfeita ordem.


há males que vêm para o bem: era alguém lá dentro da sua cabeça, de dentro de sua memória das coisas populares, que gritava mais um. cara, pára, já tá tudo bem, tudo superado. era preciso só conferir, confirmar, testar, tentar... e agora a vida continua, e o futuro a deus pertence [...]


afastou tudo o que pensava, entrou no mais delicioso estado letárgico/catártico [difícil dizer o que era isso para ele, afinal] com seu exemplar velho entre os joelhos: leu leu leu leu leu e, costumeiramente, marcou passagens para, quem sabe um dia, lembrar de coisas que não fossem ditados moralistas e englobadores de todas as situações do globo. suas respostas continuavam contidas na diva que conseguia dar conta do indizível. e agora já era ela quem falava.


Para me refazer e te refazer volto a meu estado de jardim e sombra, fresca realidade, mal existo e se existo é com delicado cuidado. Em redor da sombra faz calor de suor abundante. Estou viva. Mas sinto que ainda não alcancei os meus limites, fronteiras com o quê? sem fronteiras, a aventura da liberdade perigosa. Mas arrisco, vivo arriscando. Estou cheia de acácias balançando amarelas, e eu que mal e mal comecei a minha jornada, começo-a com um senso de tragédia, adivinhando para que oceano perdido vão os meus passos de vida. E doidamente me apodero dos desvãos de mim, meus desvarios me sufocam de tanta beleza. Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca.

***


quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O quarto já era sombra, totalmente povoado pelos reflexos simultâneos dos espelhos ali. Onde estarei? Que tão estranha sensação de amante que se prepara para aquele que nunca vem? Os lençóis perfumados: são odores de flores podres, que jazem juntas ao corpo de uma noiva morta. Noiva não, prostituta assassinada quando tinha o semblante leitoso e doce. [Nuas, mortas ou dormindo, não tem diferença].

Onde estavam os anéis das pontas daquele cabelo castanho-claro? Era o mesmo cabelo que evoluíra ao radical amarelo e depois ao preto, de um liso ofensivamente simétrico, quando nada era maior que as unhas grandes, os peitos fartos, a pele lisa? Lixa-se, com pressa, as pontas de unhas curtas [e cada vez mais curtas unhas] que engancham nas roupas de lã, sensação enervante que é preciso, antes de qualquer outra coisa, de qualquer outro pensamento, evitar: a situação da unha, presa às tramas de algodão, pouco a pouco a se partir pelos cantos. Às vezes seria mil vezes desejável acordar uma barata cascuda, porque isso é literatura [não tem explicação] [não carece de explicado] [ninguém quer explicação]. E, quando todos os espelhos refletem a carne mais humana [da pele mais branca] do que nunca, e a consciência grita: ba-ra-ta?

Barata não tem unha e provavelmente não deve ter coração pulsando; barata não dá importância a cravos e tampouco a rosas; barata não chora por não ter consciência; barata não tem cabelos para lavar; barata não sabe o que é um olhar, não diferencia o verde do azul e nem sentir cheiro sente.

...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

a volta.

dilaceração.
que bom que ainda temos amigos que saiam com a gente na foto.
que bom que, apesar das tristezas, ainda temos sorrisos a distribuir.

(carol, tamara e thaís na redenção - 03/08/08)

[não]

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