terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Há uma gota de sangue
espesso em minha garganta
amigdalítica.

Acho que nunca te mostrei
minha garganta, oposta
à nuca aberta
que vias nas noites nuas

[ou vias estrelas na rua?]

enquanto eu gemia
qualquer verso estúpido
vão
a um coração

[coração?]

vazio de qualquer luz
de luas minguantes que fossem!
Mais vazio que a rua escura.

Sangue
do dente
que furou um dedo
que fuça duas amígdalas
que provocam a ânsia acre
do vômito catártico de tudo-o-que-não-fui.

Enterneço-me
ao líquido gástrico
pastoso:
sou eu, meu céu
cintilado por estrelas
de ervilhas vermelhas,
meus olhos
mais brancos
mais leves que
minh’alma cheia de
espasmos lentos e frios.

Frio,
como a louça
do vaso,
agora orquídia salpicada
de versos vermelhos
no branco.

Não sei se já disse
que como
orquídias.
Já sei,
me disseste:
- Come só morango!

Falhei, não te ouvi.
Devoro cigarros
e sorvo as águas
de estrelas refletidas
no chão,
decaídas, imperfeitas.
Perdão.