Há uma gota de sangue
espesso em minha garganta
amigdalítica.
Acho que nunca te mostrei
minha garganta, oposta
à nuca aberta
que vias nas noites nuas
[ou vias estrelas na rua?]
enquanto eu gemia
qualquer verso estúpido
vão
a um coração
[coração?]
vazio de qualquer luz
de luas minguantes que fossem!
Mais vazio que a rua escura.
Sangue
do dente
que furou um dedo
que fuça duas amígdalas
que provocam a ânsia acre
do vômito catártico de tudo-o-que-não-fui.
Enterneço-me
ao líquido gástrico
pastoso:
sou eu, meu céu
cintilado por estrelas
de ervilhas vermelhas,
meus olhos
mais brancos
mais leves que
minh’alma cheia de
espasmos lentos e frios.
Frio,
como a louça
do vaso,
agora orquídia salpicada
de versos vermelhos
no branco.
Não sei se já disse
que como
orquídias.
Já sei,
me disseste:
- Come só morango!
Falhei, não te ouvi.
Devoro cigarros
e sorvo as águas
de estrelas refletidas
no chão,
decaídas, imperfeitas.
Perdão.
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