domingo, 5 de abril de 2009

Não tenho mais dentes. Tudo me é amargo. Ou oferece-me sangue que me adoce? Uvas fervidas no pão são doce, seu cheiro é doce, sua textura é tenra. Engana-te: não há sementes a serem cuspidas, não há choro que saia de poros secos, há só o mar logo aí, em frente, rente a ti. Tu és o mar, imenso, disforme e envolvente. Eu tenho medo de coisas assim, já reparaste? Viste que raro me banho em suas águas?
Não posso mais com seringas, já não tenho veias. Imploro pelo meu último cigarro. Porque pior do que não o ter, é tê-los todos, acendê-los todos, um a um, nas guimbas já tragadas, nas memórias de guimbas. Penso: será este o último? E nunca é! Quem me trará o último, quem me anunciará que não há tempo para mais nada? [apenas para um último cigarro e para uma prece intercalada às tragadas] De olhos vendados, conhecerei sua voz? E a tua, continua igual?
Sem dentes, sem seringas. Aceitas que eu te sorva?

8 pitacos:

Nana disse...

teus textos andam bem sensoriais.

Nana disse...

=***

boneca cega disse...

pensei que você queria o último cigarro

Improviso disse...

Carolina, guardo teus textos para o fim do dia como quando vou para a praia e caminho pelo mar de madrugada. me perco, me acho. não sorrio, não choro. acendo um cigarro e sinto as palavras em degustação no meu olho, na minha boca.

Carol'cut disse...

que lindo! mas me pergunto: 'quem será Camila?'

Carol'cut disse...

pensando bem, o jeito de escrever me é familiar... mas o nome ñ é Camila...

Improviso disse...

esse foi o nome que minha avó escolheu para mim quando nasci. não sei se ao me ver nascer eu daria-me esse nome. mas foi assim. é como me chamam, os mais queridos e os mais detestáveis. e essa Camila ontem de noite abriu o pote de chimia de uva e comeu com torradas entre o fim do dia de ontem e o começo do dia de hoje.

Carol'cut disse...

hm. eu tb... como muita chimia de ontem pra hj. e chimia feita em casa!