domingo, 15 de novembro de 2009

Silêncio, por favor.
Vi a placa, obedeci.
[os ventos vindos do chão, não]

Fecho os olhos: cinza.
Céu e Guaíba: cinza.

Subo no terraço de um dos prédios
mais altos
da beira da cidade:
sitiadamente cinza.

Lama pura
nas águas do lago cor de cobre.
Lama primaveril, resquiciosa
dos vapores das chuvas
que sobem do asfalto quente lá embaixo.

Na rua no alto do piso
altifalante, uma música
feito vinheta pronta
pro Natal entoa
um hino aquoso:
demencial.

Consumo meu cigarro
a longas tragadas de orgasmos
a céu aberto
[e pra ti: cinzas]
onde todos os pássaros
[sem asas como eu, tu:
asperamente sem asas]
me podem ver.

Na lama
da rua
do lago asfáltico
metálico olhei...
tua bocalâmina
de baixo sorria,
pedia [sim: pedias!] que eu
– eu, estrela [só da minha] vida inteira –
mergulhasse
[e pedia tão infantilmente
que quase cedi].

Não fui. Não dormi,
e assim a vida me passa
[pra trás?]:
entre tragos tragadas sorvidas
– em plena primavera quente –
na xícara de louça
nos lábios sedentos
por mais uma gota de suor
noturno: varrido afinal pelos ventos.

[E ainda não é noite
o bastante pra mim.
Ainda é de tarde, na verdade.]

Não vou dormir aqui.
Vulnerável: à mercê da palavra
poematicamente à espreita
de uma fresta entre mim
o que vejo
[Silêncio, por favor]
a ausência
[que cerro nos punhos]
o abismo
[que sorvo aos soluços]
e o sono
[que assusto às fraturas].

5 pitacos:

Anônimo disse...

Já estava bom.. mas vi que deste umas modificadas, adorei.

Sucedeu assim disse...

"a longas tragadas de orgasmos"
arrasou :)
eu já diria "a longos orgasmos tragados" rs

Carol'cut disse...

fiquei curiosa agora... quem é "Foco"?

cintilante disse...

estou me identificando com teus poemas. andam cada vez mais fortes e cheios de si. gosto mucho, siempre.

S.D. disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.