Andava pela rua da praia
quando um sujeito
- sujo o sujeito -
[mendigo ou drogado bêbado desocupado?]
disse: me dá um... dá um...
Eu, claro, nem olhei.
sem vergonha!
ele disse.
e como se ouvisse o que pensei
repetiu mais alto:
S E M V E R G O N H A
Eu?
[eu, que tô de saia,
sem ser puta?]
[eu, que saio cedo
volto tarde?]
[eu, que subo-desço
o asfalto, a lomba
sem riscar o salto?]
Parei, olhei, protestei.
Disse a ele qualquer palavrão.
Ele: ele veio
veio vindo a mim
em mim.
Ri.
Aos risos e hematomas
contei o curioso caso a quem quisesse:
Foste à polícia?
Escreveste ao correio?
Louca louca, por que ris?
Seria bacana,
o cara iria em cana
eu riria em casa, na cama.
Tudo [o pouco] isso
viraria notícia, crônica.
Não. Não é bem isso o que procuro
o que proclamo.
Eu rezo, meu Deus, por um gesto
qualquer um que seja
de protesto.
Dou meu humilde corpo
a um vagabundo, louco
e peço: vem, me bate
bate forte: eu mereço.
porque eu também protesto.
Eu?
[que carrego sobre mim o peso de ser
quem eu penso que posso ser:
e isso não é nada]
Eu?
[que na cama derramei o gozo
falso
por alguém que não me ama]
Eu?
[que parto apressadamente
de qualquer parte]
Eu?
[que nem sou parte de
um todo que é parte de
algo que é
parte de mim]
Eu, tão pouco
que me faço
ou fazem de mim,
rio: sou tudo
no sufoco de um outro
corpo, pra quem gritar já não basta.
Estou a serviço do soco.
slide
Há 6 anos
3 pitacos:
Aguardo ansiosamente por um livro de poesia teu. O estilo é único, cru, forte, direto. Precisamos ler mais disso.
estou realmente impressionado, muito, mas muito impressionado.
eu diria sinceramente: isto é das melhores coisas que já li.
tu estás te puxando, hein?
impressionante.
Carol, tenho lido tuas palavras mudamente. Essas em especial me deixaram boquiaberta.
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