sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

depositei qualquer coisa
de meu
na estrada
incalculada,
desejo de marchar
marchar e perder
qualquer discurso

perder de vista,
pôr em desuso
o compromisso
que assumi com
um mundo
de não-eus.

aqui não sou nada
[e quero ser nada]
e o aqui é o quando,
é o onde
onde sempre me quero:

cada brecha é meu lugar
cada espaço um desvio novo
um desvão de mim mesma
entre pés, pernas, panturrilhas
[genitálias]
que se tocam nuas,
amantes dos espaços vazios
efêmeros, belos!

quero asas lisas, axilas
nos meus pés...
aqui no meu aqui
não há correspondência
coerência
família, pátria, amores
problemas e dilemas.

sou o improvável
do agora
diante dos meus olhos.
sou e não sou em cada poro
quando quero
e quero gravitar
nos motores mais
e mais bestiais
do jamais.

o jazz soa
na boate em Curitiba
[parto, não parto?],
balbucio o baixo
grave, leve...
escrevo porque sou o agora,
escrevo e não perco
meus olhos em pontos
distantes, idos
perdidos no passado.

e já não sou mais eu:
comanda a toada sutil
dos meus gestos que
traçam esta escrita imóvel,
meu pulsar insano
vindo do piano
da voz...

prefiro deixar
a emoção do palco
comandar minha pulsação:

ser nada, o som sentido
nu
nas espaldas pautadas,
narinas dilatadas,
sussurros suados 
ao ouvido...
escorre comoção
por todo o meu corpo
acre, cru.

3 pitacos:

cintilante disse...

carol, tu arrepia todos os fios dos meus cabelos!

acho que essa é a melhor coisa que já li aqui. dentre muitas, o destaque. que mão, poeta!

Maria Teresa disse...

Lindo, lindo! Não canso de te ler, sou declaradamente tua fã! Tava com saudades de ler alguma coisa nova aqui.Tens o dom da pena, quero te ver grande!

Nana disse...

Sensorial como sempre. Sinto falta.