sexta-feira, 13 de março de 2009

passei no zaffari e comprei um potão de chimia de uva. decadente? talvez. desejo de comê-la toda com pão quentinho? com certeza.
houve um tempo em que tudo se renovava nesta época de recomeços: recomeço das aulas, reencontro dos amigos, que se dispersavam por aí nas férias, aquele frio na barriga, aquele deixar-de-ser-tão-criança e ir para o segundo grau!
minha mãe à beira do fogão, fervendo uvas e mais uvas... aquele cheiro se expandia pela casa toda... jamais poderia haver melhor doce. [e agora saboreio este, só: eu, os pães, as lembranças do que antes foram uvas.]
não há mais uvas, não há mais mãe a responder-me as minhas questões sobre a vida, negando-as, portanto respondendo-as sem saber. entre uvas e vapores, novidades, e ela se recusando a me enxergar, só me dizendo: come. queria tanto dizer a ela, me fazer entender, entender o que se passava... come! come que tá bom, prova só!
e provei de tudo. creio até ter estragado meu paladar, tudo se me afigura amargo, menos este pote de chimia barata, o que me resta em uma tarde vazia de sexta-feira: comê-lo todo, degustá-lo junto com meus fantasmas - porque hoje sou eu que os assombro!
[mas estou tranquila, sinto o cheiro da fervura da uva, minha nostalgia olfativa, que tudo renova.

é tudo novo de novo.]

2 pitacos:

cintilante disse...

não há mais uvas. não há colher.

Nana disse...

memórias.
não gosto muito delas.
machucam.